Às vezes, de nós para nós mesmos, fixa-nos o acontecimento por onde o futuro nos espreita. Afastamos, então, os pensamentos, no gesto de quem se recompõe. Mas nem sempre esse gesto expedito basta. Coçamos então a nuca, afagamos a testa ou o queixo, como quem revolve, nos motivos que se indagam, as razões do impossível. Eis o Francisco, que acaba de chegar. «Que faço eu aqui, ó valha-me Deus!»... «Isto só visto, ó sorte malvada!» E olha para nós. Com aqueles seus olhos cavos e profundos. Inacreditavelmente azuis. «Isto é alguma coisa, diga-me lá?». «Francisco, diz-lhe o JP, enche-te de paciência. Vais ter de nos aturar aqui ainda durante uns tempos». Quando o conhecemos mal caminhava. Hoje, assim que nos vê, passa, num gesto largo em que o braço passa em arco sobre a cama, gesto de quem assinala alguma espécie de invisível cometa, que cruzasse os céus caiados da sala, o andarilho com que outrora se apoiava, para andar pelo corredor. Abre espaço para que nos sentemos. Puxa de seguida a cadeira e convida-nos: «sente-se aqui». E depois torce-se sobre a cama para não ficar de costas para ninguém. «Olá, Francisco: dormiste bem a noite?».
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
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