Há pessoas em quem o silêncio é uma forma de pudor. São raras. Francisco Encarnação é uma dessas pessoas cuja presença se marca pela reserva. O seu olhar guarda em segredo uma difícil disciplina. Não é homem para se queixar. Nunca se lhe ouve um lamento, uma chamada de atenção. "Francisco, precisas de alguma coisa?" - "Euuu? Nãooo...não preciso...Tá tudo bem". Quando solta uma praga é com a voz sumida de quem fala para dentro e se confidencia a sorte macaca. Levanta-se da cama 8 do Serviço de Gastroenterologia e vai de andarilho pelo corredor...De vez em quando funga. O inverno dói-lhe na rótula do joelho. Chega à sala de convívio e senta-se ao fundo. A um canto. Pesa 40 kilos. Mas é senhor de uma gravidade toda ela feita de contenção: "Um ponto na boca" - e junta com o polegar e o indicador o lábio inferior ao superior. Espera por nós deitado olhando pela vidraça da porta... espera pela nossa visita. Hoje fizeram-lhe a barba. Ei-lo, com uma ligeira inclinação no olhar. É para nós um exemplo... E um modelo...
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